quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um Novo Equilíbrio Global

Em 1914 a Europa e o Mundo mudaram para sempre. Conflitos e guerras sempre os houve, porém, neste ano eclodiu aquele que, não afectando apenas algumas nações, se alastrou a praticamente todas elas, provocando a maior devastação material e humana até à época registada. A Belle Époque terminaria com a chegada da guerra, levando com ela a expansão e o progresso, nomeadamente a nível intelectual e artístico, que caracterizavam este período anterior à Primeira Guerra Mundial. Também o poderio da Europa que ''dominava o mundo com toda a sua alta e antiga civilização'' (A. Démangeon, geógrafo e professor francês, 1920) se esvairia.

O tema que este trabalho vai abordar é, essencialmente, as consequências deste conflito e o novo equilíbrio global que ele impôs (Unidade 1.1). Porém, para perceber as suas repercussões é necessário contextualizar, de forma breve, o seu surgimento.


- CONTEXTO EM QUE SURGIU A 1ª GUERRA MUNDIAL - 
1) A PAZ APARENTE QUE ANTECEDEU A GUERRA

Europa, inícios do século XX. Um continente poderoso no apogeu do seu poderio sobre o mundo e, contudo, dividido. No seu interior, um conjunto de grandes potências acumulava tensões devidas, sobretudo, a rivalidades económicas (especialmente presas com questões coloniais), mas também a rivalidades políticas. Para perceber estas últimas, basta analisar o mapa da Europa até à I Guerra Mundial (1914-1918):

Fig. 1 - O mapa geopolítico da Europa em 1914.
- Na Europa Ocidental predominavam as democracias e monarquias liberais (Portugal, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda…).

- Na Europa Central e Oriental, predominavam os regimes autoritários (Império Russo, Império Alemão, Império Austro-Húngaro…).


Existiam também reivindicações nacionalistas, de que são exemplo a França (que pretendia reaver a Alsácia e a Lorena), a Polónia (que pretendia ser autónoma) e a Península Balcânica (onde vários povos apoiados pela Rússia se tinham libertado do poder Turco mas permaneciam sob o poder Austro-Húngaro).


Foi neste clima de tensões que surgiu um complexo sistema de alianças, protocolos e garantias militares, levado a cabo pelas várias nações que angariavam apoios e aliados na eventualidade de uma guerra surgir.

O primeiro grande conflito armado começou em Julho, com a declaração de guerra da Áustria-Hungria, uma vasta nação imperial, à Sérvia, um país fronteiriço. O mapa geopolítico europeu não mais voltaria a ser o mesmo.


2) O DESPOLETAR DO CONFLITO

Num clima de tensões e alianças estabelecidas secretamente, não é de admirar que, ao mínimo conflito, a guerra deflagrasse. Assim aconteceu em Junho de 1914: o Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono Austro-Húngaro, foi assassinado nas ruas de Serajevo (Bósnia-Herzegovina) por um jovem nacionalista sérvio.

O Império Austro-Húngaro apresentou, então, à Sérvia, uma série de exigências com o objectivo de punir quem estivesse relacionado com o assassínio do herdeiro e de pôr fim a intrigas que eram consideradas ameaças à paz da sua monarquia. A Sérvia acordou em aceitar algumas exigências e negociar outras, porém a Austro-Hungria não cedeu, rompeu relações diplomáticas com a Sérvia e declarou-lhe guerra em Julho desse ano. Na verdade, o assassínio do arquiduque foi apenas um pretexto para o conflito.

Deflagra, na Europa, o maior conflito armado até à época registado, fruto do complexo sistema de alianças que arrastou consigo muitas outras nações (Inglaterra, França, E.U.A., Portugal, Rússia, etc do lado da Sérvia – Tríplice Entente – e alemanha, Império Otomano, Itália, etc do lado da Áustria-Hungria – Tripla Aliança), o que culminou na MUNDIALIZAÇÃO DA GUERRA.


- O FIM DA GUERRA E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS- 

’As luzes vão apagar-se em toda a Europa; não voltaremos a vê-las acesas enquanto vivermos.’’ 
(Edward Grey, secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, 1914)


Fig.2 - Festejos do Armistício nas ruas de Paris, 1918.
De facto, embora se previsse uma guerra violenta mas curta, quatro longos anos de destruição, morte e miséria desgastaram a Europa, palco de guerra, e muitas outras nações que nela participaram.

Porém, a assinatura do armistício chegou em 1918, recebida com agrado e festejos pelas populações e militares dos diferentes países. 

Com a paz instalada, foi tempo de olhar os estragos: milhões de vidas ceifadas, extensos territórios destruídos e uma imensa desorganização económica e instabilidade política.

Mais pormenorizadamente, as consequências desta longa e desgastante guerra fizeram sentir-se a vários níveis:

ECONÓMICO


- A Europa encontrava-se em ruínas (as perdas materiais foram em grande escala e os solos ficaram destruídos). Importantes nações como a Itália, a França e Bélgica sofreram grande destruição, tendo sido as zonas da Bélgica e Nordeste de França das mais afectadas.

Fig.3 - Destruição de campos agrícolas.






As férteis colinas do Somme, França (na imagem ao lado)
destruídas pela batalha aqui travada e pelas 
crateras das granadas. Estas ‘’incinerações 
bárbaras’’ como lhes chamou o escritor espanhol 
Vicente Ibáñez deixaram muitos solos
 agrícolas impróprios para o cultivo.




Fig.4 - A Europa devastada: destruição
nas cidades e habitações



A onda de destruição fez-se sentir nas cidades europeias que foram alvo de bombardeamentos aéreos (imagem ao lado). Habitações, fábricas, etc., foram dizimadas.










- A Europa, que antes da guerra se encontrava no apogeu do seu poderio, sofreu um declínio económico, ficando totalmente desorganizada e com graves problemas nos sectores agrícola e industrial (as indústrias haviam sido convertidas para produzirem armamento).

- Os Estados Unidos ascenderam economicamente e sobrepuseram-se à Europa que deles ficou dependente (mais à frente esclarecer-se-á esta questão).


- Surge a crise do pós-guerra (1921) devido à restrição que os E.U.A. foram fazendo ao crédito, levando a que os preços decaíssem astronomicamente, a que houvesse um excesso de produção superior ao poder de compra, desequilibrando o mercado.

POLÍTICO

- A Europa atravessa um período de instabilidade política.

- A Europa vê o seu mapa político alterar-se com a assinatura do Tratado de Versalhes.

DEMOGRÁFICO

Fig.5 - As baixas entre os militares.
- Grandes perdas demográficas devido aos combates, sobretudo de homens jovens (os que participaram nas frentes de combate). Aos cerca de 10 milhões de soldados mortos, acrescentam-se as vidas de inúmeros civis. A Rússia foi a mais afectada em termos de baixas, uma vez  que o armamento e equipamento do seu numeroso exército eram difíceis com a sua indústria pouco desenvolvida. Os E.U.A., não tendo sido palco de guerra e só tendo entrado em 1917, sofreram baixas pouco significativas, assim como danos materiais.

- Grande número de inválidos (soldados retornados da guerra, por exemplo, mutilados) sem hipótese de integração na sociedade.

- Diminuição da população activa, em consequência dos mortos e dos inválidos.

- Diminuição da taxa de natalidade, devido às   mortes.





O pintor alemão Otto Dix foi um dos veteranos de guerra. Seguindo a corrente expressionista, retratou a realidade social da Alemanha do pós-guerra. Nos seus quadros (em baixo) podem ver-se deformadas figuras que representam os soldados mutilados e inválidos após o seu regresso das frentes de combate, evidenciando os danos humanos causados pela guerra.

                                                                
Fig.6 - ''Inválidos de guerra jogando às cartas'',
Otto Dix, 1920.


Fig.7 - Quadro de Otto Dix (nome desconhecido).





SOCIAL

- Aumento da agitação social e da contestação no pós-guerra.

- Afirmação das mulheres no mundo do trabalho, uma vez que os homens que haviam partido para a frente de guerra iam sendo substituídos pelas mulheres nos seus postos de trabalho, nomeadamente nas fábricas.

- Surgimento de uma nova mentalidade devida à presença da morte e da destruição durante a guerra, o que leva a uma mudança de hábitos e comportamentos norteados pela vontade de ''viver a vida ao máximo'' e de ''viver cada dia como se fosse o último''; o vestuário mais descontraído, as mulheres que fumam e frequentam espaços nocturnos são algumas das novas atitudes que surgem na sequência desta mudança de mentalidades que ficou conhecida pelos ''Loucos Anos 20''. 


1) AS NEGOCIAÇÕES DE PAZ

Após a Alemanha, abandonada pelos seus aliados, ter assinado o armistício, foi necessário proceder-se às negociações de paz. De modo a evitar um segundo conflito armado, as potências vencedoras reuniram-se em Paris, em 1919. Destacam-se três principais nações: a Inglaterra (representada por Lloyd George), a França (representada por Clemenceau) e os E.U.A. (representados pelo presidente Wilson). Serviram de base às negociações os ‘’14 pontos’’ que o presidente norte-americano Wilson lera ao Congresso americano em Janeiro de 1918.


O QUE DEFENDIAM OS ''14 PONTOS'' DE WILSON 
(a negrito, alguns princípios liberais que os nortearam)

Fig.8 - Woodrow Wilson (1856-1924),
Presidente norte-americano e
autor dos célebres ''14 pontos'' que
nortearam as negociações de paz
em 1919.

1.Prática de uma diplomacia transparente e fim dos tratados secretos, para evitar coligações como as que conduziram à mundialização da I Guerra.

2.Liberdade de navegação (princípio livre-cambista).

3.Liberdade de comércio (princípio livre-cambista).

4.Redução de armamentos, a fim de diminuir as condições para a eclosão de novo conflito.

5.Reajustamento das colónias, tendo em conta os interesses dos povos autóctones (princípio das nacionalidades).

6-9. Evacuação da Rússia e da França (com resolução do problema da Alsácia-Lorena, retirada pela Alemanha) e rectificação das fronteiras italianas (princípio das nacionalidades).

10. Independência das nações do ex-império Austro-Húngaro (princípio das nacionalidades).

11. Solução do problema balcânico (Roménia, Montenegro e Sérvia, sendo que à última deveria ser cedido o livre acesso ao mar – princípio livre-cambista).

12. Soberania e segurança para as regiões turcas do Império Otomano e livre passagem no estreito de Dardanelos (princípio livre-cambista).

13. Independência da Polónia (princípio das nacionalidades) e seu livre acesso ao mar (princípio livre-cambista).

14. Criação da Sociedade das Nações.


Apesar das intenções de paz do presidente Wilson, as suas ideias não chegaram a singrar, como se vai explicar mais adiante.

2) O TRATADO DE VERSALHES

Apesar das divergências de interesses (essencialmente imperialistas) e do desejo da França e da Inglaterra de uma rendição total e substanciais reparações económicas dos vencidos aos vencedores, o consenso chegou em Junho de 1919, concretizando-se nos tratados de Versalhes, Saint-Germain-en-Laye, Trianon, Neuilly e Sèvres que determinaram uma nova geografia política na Europa e Médio Oriente.


Destaca-se o Tratado de Versalhes que reuniu vários países vencedores e foi inspirado, como já referido, na mensagem em 14 pontos de Wilson. Centrava-se na problemática do direito de nacionalidade das minorias dominadas pelos anteriores Impérios e na repartição dos territórios coloniais não europeus. Assim, definia que:


- Existiriam novas fronteiras geopolíticas na Europa e Médio Oriente:

  • A Alemanha perde a Alsácia e a Lorena para a França;
  • A Polónia e a Dinamarca aumentam o seu território;
  • A Europa Central e Balcânica é totalmente reorganizada a partir do desmembramento do Império Austro-Húngaro, sendo que a Hungria e a Bulgária perdem territórios para a Grécia e a Sérvia e a Turquia abandona grande parte do seu território;
  • Algumas parcelas de território ficaram na posse da recém-criada Sociedade das Nações, instituída pelo mesmo tratado.


O mapa político da Europa altera-se e passa, então, a ser o seguinte:

Fig.9 - O recuo dos autoritarismos: o novo mapa geopolítico da
Europa, pós I Guerra Mundial (a amarelo os novos países).


- A Alemanha era responsável pela guerra, retirando-lhe parte do seu território (Alsácia-Lorena devolvidas à França) todas as suas colónias, toda a sua frota militar e parte da mercante, as minas de carvão do Ruhr e do Sarre (que passam para a França), reduzindo o seu exército e obrigando-a a pagar pesadas indemnizações aos vencedores.

Fig.10 - Capa de um jornal francês alusiva
ao Tratado de Versalhes (em baixo ''A
Assembleia Histórica de Versalhes'')
‘’A Alemanha e os seus aliados são responsáveis por tê-los causado [os estragos de guerra], por todas as perdas e danos , sofridos pelos governos aliados e associados e seus naturais, em consequência da guerra.'' 
(Art. 231 do Tratado de Versalhes)

''O montante dos ditos prejuízos será fixado por [a Comissão de Reparações].'' 
(Art. 233 do Tratado de Versalhes)

- Deveria ser instituída uma liga para a cooperação entre nações, a Sociedade das Nações (último ponto nos ''14 Pontos'' de Wilson).



O resultado foi o  abatimento dos impérios autocráticos, a emancipação de várias nações por eles subjugadas, o aumento dos regimes republicanos e das democracias parlamentares. Crê-se na vitória da justiça e num futuro risinho para a Humanidade.



3) A SOCIEDADE DAS NAÇÕES

A Sociedade das Nações, um instrumento de esperança de paz, foi, então, constituída com a assinatura do Tratado de Versalhes. Sediada em Genebra, esta liga de países pretendia ser um grande mecanismo de segurança colectiva capaz de garantir uma paz duradoura e um entendimento, pela via do diálogo, entre todas as nações. O principal objectivo era o de evitar um novo conflito, assegurando o primado do Direito Internacional. Para isso, assentava nos princípios:

- Da cooperação entre os povos: ''(...)desenvolver a cooperação entre as nações e garantir-lhes a paz e a segurança'' (Pacto da SDN).

- Da promoção do desarmamento: ''Os membros da Sociedade reconhecem que a manutenção da paz exige a redução dos armamentos nacionais'' (Art.8º do Pacto da SDN).

- Da solução dos problemas e conflitos pacificamente: ''Se um membro da Sociedade recorrer à guerra (...) será considerado como tendo cometido um acto de guerra contra todos os outros membros da Sociedade(...)'' (Art.16º do Pacto da SDN).

Porém, a Sociedade das Nações ou ''os Quatro'' (assim apelidada por ser gerida por quatro órgãos), foi alvo de duras críticas.

3.1) CRÍTICAS À ACÇÃO DA SDN E À NOVA ORDEM IMPOSTA

As resoluções tomadas pela nova liga de nações foram alvo de críticas numa Europa que, em vez de ter visto reunirem-se esforços pela sua reconstrução, viu, maioritariamente, os interesses de algumas nações serem atendidos.

O economista britânico Keynes foi um dos que criticou a acção da Sociedade das Nações. O excerto (ao lado) data do ano seguinte à sua fundação e critica:

- Em primeiro lugar, o facto de as reparações, principal preocupação da SDN no âmbito económico, terem sido levadas a cabo ‘’como um problema de teologia, de política e de táctica eleitoral’’, o que realmente se verifica, visto que os interesses dos ‘’impérios centrais vencidos’’ não foram tidos em conta e nada se fez para os colocar ‘’no meio de bons vizinhos’’.

- A situação da Rússia, uma vez que este antigo império, para além da perda de territórios, não foi em momento algum tido em conta nas negociações de paz, sendo que vivia, na altura, problemas internos e nada foi feito para os resolver.

- A Europa humanamente destruída que não teve também a atenção dos ‘’Quatro’’.

- O facto de não se ter procedido à boa organização dos ‘’novos estados europeus’’ já que, apesar das novas fronteiras, nem todos os povos viram as suas aspirações tidas em conta.

- O facto de países como a França terem visto tidas em conta as suas aspirações hegemónicas, sendo que esta nação, por exemplo, acartou os territórios da Alsácia-Lorena, do Ruhr e do Sarre e, ainda, pôde expandir-se para o Médio Oriente. 


Também Lawrence Jacks, filósofo inglês, criticou a SDN, afirmando que as diferenças de poder entre as nações trariam problemas no âmbito do cumprimento dos seus compromissos e da defesa dos seus interesses. De facto, nações vencidas como a Alemanha foram, numa primeira fase, postas de parte e impedidas de entrar na organização. Também estas se viram sobrecarregadas de obrigações e pagamentos com os quais se pretendia reconstruir as economias europeias (das nações vencedoras), à custa da asfixia económica dos vencidos.

A estas críticas junta-se a insatisfação de outras nações que faziam parte dos bloco vencedor. A Itália, por exemplo, que havia passado da Tripla Aliança para a Tríplice Entente, clamava uma ''vitória mutilada'', uma vez que alguns territórios que lhe haviam sido prometidos não lhe foram entregues. Portugal, participante oficial da guerra desde 1916, ao lado da Inglaterra, acusou as potências europeias de esquecimento, uma vez que este país nada recebeu em termos de reparações de guerra.
O próprio Congresso Americano não foi capaz de rectificar o Tratado de Versalhes, uma vez que não concordava com as pretensões hegemónicas e imperialistas de algumas nações europeias, como a França por exemplo.
Como já referido, os povos vencidos foram amplamente prejudicados, em vez de ajudados na sua reconstrução económica. Estes, humilhados, nunca aceitaram os tratados assinados, uma vez que não concordavam com as resoluções neles estabelecidas e não haviam sequer participado na sua elaboração. Bons exemplos disso são a Alemanha e  Rússia (que já havia sido prejudicada em termos territoriais com a sua saída precoce do conflito, em 1917).
As novas fronteiras estabelecidas foram, também, alvo de contestação, uma vez que vários povos eram abarcados por nações às quais não pertenciam, nem se identificavam. A Polónia, por exemplo, abarcava territórios povoados de ucranianos e bielorrussos e a Áustria, maioritariamente alemã, foi impedida de se juntar à Alemanha.

Sem o apoio americano, sem exército próprio, com a sua autoridade moral desacreditada e sem meios para resolver os conflitos territoriais que surgiram, os ''Quatro'' não foram capazes de cumprir o seu papel, deixando, até, sementes que originariam conflitos futuros: exemplo disso são o conflito dos Balcãs nos anos 90 e a 2ª Guerra Mundial. O ''sonho'' preconizado pelo presidente Wilson de uma paz duradoura  na Europa e no mundo, extinguiu-se em 1946, com o fim da organização.



4) O DECLÍNIO DA EUROPA E A ASCENSÃO DOS ESTADOS UNIDOS

Como já referido, as finanças europeias haviam ficado completamente desorganizadas após a I Guerra Mundial. As nações intervenientes foram em larga escala prejudicadas: a dívida nacional aumentou seis vezes na Itália, sete na França, dez na Grã-Bretanha e, na Alemanha, vinte vezes, números que traduzem a devastação das economias europeias. Como referido anteriormente, as indústrias e a agricultura viram o seu potencial reduzido. Para além disso, a Europa perdeu mercados estrangeiros e viu a sua produção de carvão diminuir substancialmente.
As moedas europeias desvalorizam, entrando num período de crise.

Mas como chegou a Europa a esta situação? A resposta encontra-se no esforço de guerra que as nações fizeram durante quatro longos anos e nas perdas humanas e materiais que se fizeram sentir. Para fazer face às necessidades durante o conflito, a Europa recorreu:

- Aos Estados Unidos  que se tornaram o principal fornecedor de armamento e outros equipamentos bélicos, fazendo com que as potências europeias ficassem cada vez mais dependentes economicamente desse país.

- À conversão de indústrias em unidades de produção de armamento e equipamentos de guerra, sendo que a sua reconversão no final da guerra foi, naturalmente, difícil.

Fig.11 - Indústrias europeias convertidas em indústrias de guerra,
durante o conflito.
No final da guerra, incapazes de se reconstruirem sozinhas, as nações beligerantes europeias recorrem, mais uma vez, ao crédito americano, por se encontrarem empobrecidas. De facto, criou-se um triângulo financeiro entre os Estados Unidos, a França e a Inglaterra e a Alemanha.

Fig.12 - Triângulo financeiro do pós-guerra.

Aqui é visível a situação em que ficou a economia europeia: a Alemanha, obrigada ao pagamento de pesadas indemnizações de guerra às nações vencedoras, recorria ao crédito americano para fazer face a esses custos. Com o capital recebido da Alemanha, nações vencedoras como a Inglaterra e  França pagavam as dívidas que haviam contraído dos E.U.A. durante a guerra. Por outro lado, os Estados Unidos cediam crédito às nações europeias para que estas se pudessem reconstruir, como é o caso da Inglaterra.

Para solucionar estes problemas os dirigentes europeus recorreram à produção massiva de notas para multiplicar os meios de pagamento e fazer face aos compromissos com os E.U.A. Porém surgem problemas, tais como:

Fig.13 - Evolução do marco alemão em relação
ao dólar americana entre Julho de 1914
e Novembro de 1923. A desvalorização do
primeiro é evidente, sendo que, no último
período apresentado, um dólar chegou a
valer a quantia de 4,2 triliões de marcos.
- A circulação de uma maior quantidade de moeda, sem um aumento correspondente na produção, que fez com que a moeda se desvalorizasse o que se traduziu numa subida de preços interna.

- A inflação que subiu, atingindo um valor muito elevado em 1920.

- Os países vencidos que não foram capazes de pagar as indemnizações a que estavam obrigados. A Áustria, por exemplo, declara falência em 1922 e fica sob a tutela da SDN e a Alemanha sofre uma intensa desvalorização do marco em relação ao dólar (na tabela ao lado pode ver-se a evolução da moeda alemã em relação à americana neste período).

Mais uma vez, a Europa vê-se na necessidade de tomar resoluções para solucionar os problemas económicos. Assim, pretendendo a estabilidade monetária, reúne a Conferência de Génova. Aí decide-se que as moedas europeias devem voltar à convertibilidade, isto é, na ausência de reservas de ouro, uma moeda seria convertida noutra mais forte porque convertível em ouro. O crédito americano é, mais uma vez, a base da sua recuperação económica. Seguem-se empréstimos avultados, nomeadamente para a Alemanha, para a França e para a Inglaterra. Consagra-se, assim, a dependência da Europa face aos Estados Unidos.


4.1) A ASCENSÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Perante a situação económica desastrosa da Europa, após a I Guerra Mundial, algumas foram as nações que beneficiaram com isso. Nomeadamente, os Estados Unidos da América.

Em primeiro lugar, ao ser assinado o Tratado de Versalhes, um dos acordos de paz, os Aliados ficariam obrigados a comprar preferentemente aos E.U.A., levando a que fosse injectada uma elevada quantidade de capital e a que o comércio e a indústria americanos se dinamizassem. Cresceram as suas exportações e a sua produção de carvão e petróleo .
Assim, para além das cláusulas do Tratado de Versalhes acima referidas, os E.U.A. reuniram condições para se afirmarem como nova potência económica, uma vez que:

- Foram fornecedores da Europa durante e depois da guerra.

- Fizeram elevados empréstimos à Europa.

-  Eram detentores de metade do ouro mundial.

- Não foram palco de guerra, o que se traduziu em ausência de destruição.

- Tiveram perdas demográficas mínimas, uma vez que as frentes de combate não existiam no seu território e os seus exércitos só foram enviados para o conflito em 1917, um ano antes do final da guerra.

- Instituíram a racionalização do trabalho (fordismo e taylorismo) que permitia a redução dos custos de produção. 


5) FONTES CONSULTADAS

BIBLIOGRAFIA

GAVILÁN, Enrique, MONTAÑA, Manuel, entre outros, ''Grande História Universal - A 1ª Guerra Mundial''

PÚBLICO/EL PAIS, ''Século XX - Homens, mulheres e factos que mudaram a História''

SENDER, Ramón, entre outros, ''Imágenes y recuerdos - siglo XX 1910-1920''

Vários autores, ''Os Grandes Acontecimentos do Século XX''

COUTO, Célia, ROSAS, Maria, ''O Tempo da História 12''

WEBGRAFIA

www.infopedia.pt

www.theatlantic.com




Trabalho realizado por: 
Ana Rita Cruz, nº 3 12ºJ

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